terça-feira, abril 20, 2010

"O melhor vinho é o vinho que você gosta..."

Esta frase é um dos maiores lugares comuns do mundo do vinho, repetido por quase todos os "entendedores", sommeliers, enófilos e, principalmente, pelos vendedores de vinho.

Será que todo mundo que repete esta frase acredita mesmo nela? Ou será que muitos a repetem como um tipo ameno de hipocrisia, para estimular a venda de um vinho qualquer, para estimular um iniciante a gostar da arte, ou mesmo para evitar uma polêmica?

Quantos já não ouviram a frase "quando comecei a tomar vinho eu gostava dos mais docinhos e não gostava dos tânicos"? Bem, parece que o gosto evolui com o tempo e com a experiência, e depois começamos a apreciar sabores e sensações que não gostávamos antes.

Mas não seria melhor ser mais sincero com os iniciantes (ou compradores) e dizer:

"No começo você vai preferir os vinhos menos tânicos, ácidos e amargos, mais doces, com muito aroma, e aromas simples, mais fácil de reconhecê-los. Mas isso não quer dizer que estes são os melhores vinhos."

"Com o tempo você vai começar a gostar mais do tânico, do ácido e do amargo, ainda apreciando aromas simples e diretos. No meio do caminho talvez você dê uma exagerada e aprecie demais alguma característica que antes não gostava, valorizando vinhos desequilibrados."

"Quando apurar mais seus sentidos é provável que goste dos aromas mais complexos, difíceis de identificar. Irá gostar dos vinhos mais elegantes, afinando seu paladar para o vinho equilibrado, e aprenderá a reconhecer o excesso de álcool, ácido, tanino e amargo. Neste momento o vinho que você gostava no começo vai se tornar um vinho chato."

É mister lembrar que isso não quer dizer que todos os "entendedores" gostem do mesmo tipo de vinho, mas sim que, com o tempo, se aprende a reconhecer um vinho de qualidade superior, mesmo que não seja do seu gosto.

Toda essa sinceridade pode vir a magoar um iniciante, passar um ar de arrogância e superioridade. Bem, talvez o iniciante (ou o comprador) não goste de ouvir isso, fique aborrecido, e tente reafirmar o seu gosto do jeito que é, para sempre. Ou quiçá comece a tomar vinhos que não goste, só para ser "entendido" logo, transformando o prazer em martírio.

Tanta sinceridade ao invés de clarear e facilitar o caminho, talvez tenha o efeito contrário.

É... talvez seja melhor dizer "o melhor vinho é o vinho que você gosta", e deixar que o caminho de cada um se desvende ao caminhar...

4 comentários:

Daniel Perches disse...

É, também acredito que tamanha sinceridade seja talvez até prejudicial ao iniciante, mas tem horas que dá vontade de falar isso, não é mesmo? Por que será que temos esse "medo" de falar que gostamos de vinhos bons, complexos (e caros)?
Abs

Daniel Perches
www.vinhosdecorte.com.br

Unknown disse...

Pois é. É um dilema mesmo. Aos mais chegados falamos a verdade. E a verdade, para o nosso gosto, acaba nos levando aos Borgonhas...

Administrador disse...

Pra mim essa frase tem uma função bem positiva: serve para encerrar uma conversa sobre vinhos que esteja indo para um lado menos "cordial". Se não consigo convencer alguém sobre minha opinião, digo logo que ele tem razão, usando essa frase.

Mas a frase pior de todas é a do Michel Roland: "Vinho bom é o que vende". Ótimo, então na lista de melhores vinhos temos: os vinhos de mesa (garrafão) de São Roque, o Canção, o Mioranza Suave, o Miolo Seleção etc.

Saúde!

alemdovinho disse...

Vinho, para mim, é sobretudo, prazer. Claro que o horizonte de prazer, pode e deve ser alargado, com conhecimento, leitura, conversa e muita prova e comparação. Para mim a grande beleza do vinho é a sua diversidade, portanto, não como dizer este ou aquele é o melhor vinho. Mais, somo a isto o fato de entender que além de prazer o vinho é momento. Assim ali , naquela hora, com aquela companhia, naquele local o vinho certo, pode até mesmo ser popular, mas, se o momento foi inesquecível este vinho também o será.